terça-feira, 12 de abril de 2022

[0765] Saiu "Fronteira", livro de Luís Palma Gomes


Capa e contracapa

Em edição de autor e com capa de Marina Palácio, saiu "Fronteira", de Luís Palma Gomes, colaborador assíduo de "Ibn Mucana". Eis dois poemas desta muito interessante obra.

Pedidos podem ser feitos para lmiguelgomes@67@gmail.com

ESPERANÇA

Está escuro.
Nada mais digo.
E, sem ruído, deixo-me levar
pela promessa da janela
- qual varejeira, em voo incerto -
procurando o destino que se insinua
na escuridão do pleno dia.



ÁGUA
Querida água,
queria pedir-te que matasses a sede da gazela.

Lava-lhe as feridas que não saram.

E quando partires para a foz, 
leva contigo o brilho fugaz dos peixes que subiram à montanha.

domingo, 10 de abril de 2022

[0764] "Raticida", poema de Joaquim Saial, de 21.4.2019



RATICIDA


        "O rato roeu a rolha da garrafa

        do rei da Rússia (…)"


Mas, se assim é, expliquem-me lá,

porque é que o czar Vladimir Vladimirovitch Putin

–  que possui ilimitadas bombas atómicas

e colecciona submarinos nucleares,

caças e tanque de guerra

que nunca mais acabam

(e matam que se farta) – 

não consegue obter um raticida eficaz,

enfim… como deve ser?

[0763] E como é Páscoa, aí temos um Luís Palma Gomes pedagógico...


PEDAGOGIA PASCAL


Repete comigo:

tudo é mais amplo do que parece.

As paredes da casa fértil

abarcam uma linhagem 

de quarenta e seis gerações.

Os exércitos que marcham agora,

caminham desde o velho testamento

até todas as cidades maculadas.


Só podes entender 

porque cai a colher pousada

em cima do prato,

se tiveres, porventura,

combatido, em Waterloo,

ao lado de Bonaparte.


A tua humana consciência

sintetiza apenas

a memória do insecto

que atravessou, outrora, a parede da sala.


És uma bactéria nervosa

que Deus observa

através da lente fosca,

o átomo do átomo

dentro de uma bolsa marsupial

que se expande e encolhe,

que respira.


Agora vai.

Já renasceu o dia.

Podes tocar na fruta,

na tecla, na lei,

porque já nada muda.