quinta-feira, 4 de abril de 2019

[0616] Sangwangongo Malaquias, o nativismo - ou um luxo de poesia angolana


Poeta, músico, escritor e dramaturgo angolano, não é conhecida a data e local do seu nascimento.


CORAÇÃO ALADO

O teu amor, Nalola,
é vinho doce que magoa
garapa que me mata
colina de olhos verdes
eternamente aprisionada
ao feitiço do Cassai:
Quando todas as portas
eternamente ficarem abertas
no céu eu vou dormir
Muílo mungúia, Nalola!
Na pedra da tristeza
desenhem um coração alado
para depois da minha morte
ele voar desenfreado
até à margem do Lóvuawangongo Malaquias
onde se banha a preciosa Nalola
luar da aldeia Xaminhamina
paraíso de todos os mundos:
Quando todas as portas
ficarem escancaradas
no céu eu vou dormir
Muílo Munguía, Nalola! Muílo é hé!


SEM TÍTULO

1
Lancei os dados
no pano verde
de uma floresta
de bambus.
Aqui nem a chuva
tamborila
nem a zebra corre
por correr.
Há um rio sem margens
no caminho verdejante
onde os elefantes vão morrer.

2
Metemos o mundo
em trabalhos
só porque sonhámos
e fomos insubmissos.
Pusemos à lapela
os brilhos da lua cheia
nas facas longas
que degolaram a claridade.
Tenho na garganta um travo amargo a liberdade.

3
A cabeça virada
à cabeçada
e a voz das zaragatas.
Um semba vadio
grita gestos lancinantes
de ciúmes e facadas.

4
Se te perdi, meu amor,
encontro-te nos caminhos
onde me movi
apenas para me perder.
Quem perde os seus amores
colhe tempestades
de violinos e flores.

5
Ainda estou à tua espera
neste cemitério de navios,
na colina que o vento fustiga
às portas da foz do Bengo.
Espero por ti na lagoa
onde o sol faz ninho
e o mar se derrama em mangonha
no meu copo de vinho.
Estou à tua espera meu amor derradeiro…

Sem comentários:

Enviar um comentário