terça-feira, 12 de março de 2019

[0607] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (23) Nuno Rebocho, viajante de mundos


Nas suas peregrinações pelo mundo, o autor relata assim a sua chegada à Córsega: um dos poemas do seu livro “A Ilha de Amianto”.


O PLANETA INVISÍVEL

o planeta invisível. a bruma come
o tempo mas a bexiga natatória dos sentidos garante a realidade. à tona das rugas
(quando, onde) onde o silêncio silfa
como olhos na barriga da memória descubro a confusa mancha
das coisas por acontecer. aos poucos,
no jeito de desarvorar roupas,
a montanha sacode a névoa.
a ilha poisa sobre o mar.

o planeta visível. permanece a ausência quando os olhos se atarefam na manhã. olhos que iniciam a timidez dos gestos
e definem missões para os momentos. por exemplo: além uma cidade, um monte. além o casario arrepela-se de lixeiras
e as gaivotas triunfam sobre os restos. esta é a ilha. os contornos encerram nítidos
os olhos das ausências. então, o silêncio guardado nas orelhas uiva como apelo.
a ilha descobre-se. e o mar acaba.

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