terça-feira, 12 de março de 2019
[0605] De novo, Jorge Velhote
Jorge Velho regressa a Ibn Mucana. É sempre bem-vindo.
POEMA
O teu corpo aparece e desaparece
com a velocidade do ar
num incêndio. Ou num eclipse.
É a solidão de um homem.
sentado diante do mar. E perguntas:
O que vê ele na escuridão da noite
se chove intensamente?
E aguardas que na garganta
se dissolva o que não encontras.
POEMA
É nocturna a paciência
incendiando a noite e frágil.
Nos teus pés crescem ravinas e raízes –
sombras enterram na tua pele
animais indecifráveis.
Rasgas com os dedos o céu
e procuras como nos versos
uma nuvem um pouco de vento
o lugar onde começa o destino
da água.
OS GATOS DE MINHA MÃE
Os gatos da minha mãe caminham
sobre as margens das coisas simples.
Não vão à praia. Sinalizam
a preguiça invadindo silenciosos
o regaço das visitas. E escutam,
privilegiados, obscuras conversas
sobre desnecessidades ou
invasivas devassas alheias.
Olham soberanos o nosso
olhar onde passam
obrigatórios como sombras
ou luz – e quando regressam
com passinhos de veludo
dos seus desvairados lugares
traduzindo a nossa ignorância
instauram a evidência, o conhecimento
fortuito, os limites imputáveis
à ternura com que, sedosos
e felinos, se deixam afagar.
Apenas não arborescem.
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