terça-feira, 18 de dezembro de 2018

[0504] NUNO REBOCHO, POEMAS DE TERÇA-FEIRA (11) Nuno Rebocho, memórias de jornalista


Jornalista durante largos anos (no "Jornal Novo", em "A Tarde", na "Tribuna", em "O Século", no "Expresso das Ilhas", no "Jornal de Cabo Verde", entre outros), Rebocho algumas vezes fez da poesia o prolongamento da sua profissão, trazendo para os poemas os factos que caiam nas páginas dos jornais. Este é um exemplo.


POSFÁCIO

                              Na mote de Quirino Teixeira

o jornalista foi encontrado morto na banheira
a notícia comeu-lhe o coração
e na água entre a esponja e a saboneteira
foi espuma de sabão
o corpo nu encomendou o orvalho
saudades da maresia
mas os indícios eram óbvios – crime de nostalgia

o jornalista morreu convencido da ciência consumida.
morreu convictamente morto
com título a vermelho filetado e foto ao alto
notícia a corpo oito redondo times
quem? o quê? onde? quando?
o jornalista morreu fundamentalmente
substantivo
o nome segue em itálico
no remissivo

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