segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

[0482] Francisco Weyl e uma prenda de Natal


Do poeta brasileiro actualmente residente em Portugal, “Ibn Mucana” recebeu uma prenda de Natal que redistribui pelos seus leitores. Boas Festas!


O POÉTICO-INVISÍVEL

O poético está para o texto assim como a pausa está para o teatro, e o silêncio, para o /cinema.
O texto é ainda maior que a sua própria descrição, e das palavras, que o narram.
Alcança uma dimensão além da fala, e da escrita.
E ocupa o espaço de qualquer ação, ou inércia.
Em arte, o texto é tanto o canto, quanto o encanto.
Seja silêncio, ou grito, narrativa ou contação.
Por ir além, o texto não precisa sequer de palavra.
É também gesto, e intenção.
Está mais nas entrelinhas, do que nos sintagmas.
É mais síntese, do que digressão, mais haikai do que aforismo, é mais...
O teatro traduz o texto para os corpos, que o encenam, em espaços.
O texto, no teatro, é fala, e rubrica.
Ele descreve a ação do(s) corpo(s), que tem vida própria em cena.
O texto, assim entendido, é um sopro de Deus, para que a vida se mova, no palco.
Mas, o texto é o próprio corpo, e o seu espírito.
E é a alma que se desloca, nas artes.
O texto nasce de um Ser, que nasce do texto.
E este é o seu pre-texto, e o seu pós-scriptus.
O teatro opera o texto, em estado de arte, e o decupa, tal qual o cinema, que o desdobra, /assim como a ciência, que o segrega.
A decupagem, enterra o texto, mas não o cinema, que o ressuscita, com a montagem.
A montagem restitui a arte ao texto.
É uma reconstituição do texto, a recontagem de um mesmo texto.
E o renascer do filme que já existia à priori.
É por isso, o cinema, é o repousar do texto, a sua quietude.
O poeta, diz mais com imagens, do que com o texto.
E menos com palavras, do que com a sua poética.
Quando um texto deixa de o Ser, ele se transforma na imagem.
Mas quando ele deixa de ser imagem, ele se torna poesia.
E o seu Devir-Poesia, está além de seu estado de arte.
E o poético do poema, não está no poema, assim como o poético não está na imagem, /do poema.
O poético está em algum lugar, que não onde o sentimos.
Habita um lugar por ele evocado, e se movimenta por espaços, que apenas intuímos.
O poético, não está na imagem, mas no sensível-ver.
O seu texto é um repertório, inconsciente, e o seu DNA, a gênese da arte.
Não é coisa que não se fale, mas se sente.
Não é algo que se pense, mas se invente.
E sua imagem é tão nítida, quanto esfumaçada, e tão definida, quanto desfocada.


Sem comentários:

Enviar um comentário