terça-feira, 11 de dezembro de 2018

[0483] José Paulo Paes, dos novíssimos aos concretistas


De seu nome José Paulista Paes, nasceu em Taquaritinga em 1926 e faleceu em S. Paulo em 1998. Químico industrial, crítico literário, ensaísta, tradutor e poeta, recebeu o Prémio Jabuti em 1983, 1986 e 1988. Integrou o chamado grupo dos “Novísssimos” e, posteriormente, o movimento concretista. Dirigiu a Editora Cultrix.


POESIA É...

Poesia é... brincar com as palavras
como se brinca com bola,
papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião
de tanto brincar se gastam.
As palavras não:
Quanto mais se brinca com elas,
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?


CADÊ

Nossa! que escuro!
Cadê a luz?
Dedo apagou.
Cadê o dedo?
Entrou no nariz.
Cadê o nariz?
Dando um espirro.
Cadê o o espirro?
Ficou no lenço.
Cadê o lenço?
Dentro do bolso.
Cadê o bolso?
Foi com a calça.
Cadê a calça?
No guarda-roupa.
Cadê o guarda-roupa?
Fechado a chave.
Cadê a chave?
Homem levou.
Cadê o homem?
Está dormindo
de luz apagada.
Nossa! que escuro!


ODE À MINHA PERNA ESQUERDA

Desço
         que                      subo
               desço         que
                        subo
                       camas
                      imensas.

Aonde me levas
todas as noites
         pé morto
         pé morto?

Corro, entre fezes
de infância, lençóis
hospitalares, as ruas
de uma cidade que não dorme
e onde vozes barrocas
enchem o ar
de p
     a
     i
     n
     a sufocante
e o amigo sem corpo
zomba dos amantes
a rolar na relva.

         Por que me deixaste
                             pé morto
                             pé morto
          a sangrar no meio
          de tão grande sertão?

                               não
                               n ã o
                               N Ã O !



ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

a poesia está morta

mas juro que não fui eu

eu até que tentei fazer o melhor que podia para salvá-la

imitei diligentemente augusto dos anjos paulo torres carlos  drummond de andrade   /manuel bandeira   murilo mendes vladimir maiakóvski  joão cabral de melo neto
/paul éluard  oswald de andrade   guillaume apollinaire sosígenes costa bertolt brecht /augusto de campos

não adiantou nada

em desespero de causa cheguei a imitar  um  certo (ou  incerto) josé paulo paes poeta de /ribeirãozinho estrada de ferro araraquarense

porém ribeirãozinho mudou  de nome a estrada  de ferro araraquarense foi  extinta  e  /josé paulo paes  parece nunca ter existido

nem eu

Sem comentários:

Enviar um comentário