terça-feira, 18 de setembro de 2018

[0138] Aguinaldo Fonseca, a poesia imerecidamente esquecida


Aguinaldo Brito Fonseca é um poeta injustamente esquecido. Nascido no Mindelo, ilha de S. Vicente, em 1922 e falecido em Lisboa em 2014, onde se instalara desde 1945. Foi o primeiro autor cabo-verdiano a utilizar África como substância poética


MÃE NEGRA

A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.

É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.

No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
– Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.

A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém…
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços…
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade…

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