terça-feira, 18 de setembro de 2018

[0137] Filinto Elísio revisitado


Um dos principais expoentes da nova poesia cabo-verdiana, Finto Elísio Correia da Silva dá-nos a honra de revisitar este portal


AO LEITO DE ESTARMOS

                                                            outrossim...não mudam os deuses de costume

que a lua estando cheia te faça sorrir

e o lago ora azul respingue aos teus pezinhos beira-mar;

quando soletra o sol
   em solstício e de letras
paideia
sete: uma a uma
a mandar vir
   entre consoantes e vogais;

espreitas
   no poema
alquimia que não será
o estarmos no chat :)
ou  »(¨0¨)«
quando não »(^º^)«
anagramas
da não inscrição
das ilhas que somos;

regressas aos lugares
às suas guapas e raras iguarias
ditoso (és tudo) assim: do musgo silencioso
ao distraído monte
   e seus abrolhos
bem como ao delírio
tendo por serpente
a de tatuagem no teu dorso;

ou no dorso da carruagem
   metro para saint germain de prés
grafitti  duende que broxa
paideia
que lhe acudissem o sexto sentido + 1
que lhe afoitassem o sétimo sentido
seus sábios pés que palmilharam Creta
labirintos e outros tantos infinitos;

que a lua estando cheia te faça sorrir

e o lago ora azul respingue aos teus pezinhos beira-mar
as formigas continuem o seu labor de pão

e cada dia em Yvoire amanheça sem lá estarmos
os cisnes deslizantes sem que os dragões desçam Alpes
digladiar côdeas de broa e de poesia
elfos e bacantes dos tambores pelos orbes
e se te silencias às horas que tanto gemem
como sempre rangem ao leito de estarmos...


LITURGIA 

Caia sobre meu corpo a morte
e me desnorteie por ora a vida
ficando eu, de poema, saciado.

Que a maldição dos deuses venha
ao sopro do destino
e me imponha o calendário chinês,
o horóscopo e os jogos do zodíaco.

Venha o raio no vão dos céus
e me troveje e relampeje,
me alague numa enchente jamais vista.

Quero, agora, estar fora dessa barca
e desdenhe-me Noé, pois sou já poeta
e bom de briga.

Sinos dobram das igrejas, coros,
música outra, tanto dilúvio,
pássaros que voam do vale, parta eu
para o nada – sou feliz!


ME_TRIFICAÇÕES & AR_PEJOS 

ardentias outras, de senti-las,
flores, frutas, fomes e tantas ganas
o spleen dos verbos, o tríptico cio,
argenteia-me isto quando te vejo

e ver-te é tutti de orchestra, ser-te
- sorver-te fúlgida de luz -, cisma
que não espaceja outro caminho
este sem aposento, nem poente

realejos, em terem sido: estrela,
salitre, grampo, biltre ou pirilampo
esfarpelam metrificações e versos

despenca-me o cacho de uva, seja
macho revivido, outra luminária,
terra e arpejos, também seus pejos...

(Expoemas & Textamentos)


VERSOS MÍNIMOS

Bashô em mim,
como cai em ti,
o haiku de folhas
outonais.

Versos mínimos.
De quase nada.
Metade Melo Neto.
Ou apenas ponto.

O poema é zero.
Sem fonema...

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