quinta-feira, 22 de outubro de 2020

[0717] Poema de Ricardo Jorge Claudino, poeta português, algarvio e alentejano

SER CASA

Tenho duas casas paralelas

aconchegando-me em tempos paralelos;

é como se uma estivesse abraçando o céu

e a outra beijando raízes profundas na terra.

Na linha ténue desenhada pelo horizonte

quase que ambas se tocam, mas o quase

é algo que não chegou a ser; é a miragem

que relança questões para além do incerto.

Bem sei que sou a perpendicularidade

entre cada uma delas. Por isso fecho os olhos,

estendo os braços, e com uma casa de cada lado

deixo que os caminhos sejam traçados

nas linhas escritas por cada passo,

por cada enlace e por cada momento.



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