Pseudónimo de António Margalha, nasceu em Reguengos de Monsaraz em 1956. Empenhado em movimentos libertários e alternativos.
DEPOIMENTO
Pela pena de quem canta
nasce o sonho na garganta
essência do signo à fala
A condição de quem escreve
é passar na vida ao de leve
decifrando fundo cada cabala
Pois todo e qualquer canto
não é mais que o próprio espanto
na sua mais agreste travessia
E se um divinatório poeta
se adivinha em si mesmo profeta
mil vezes cruel e maldita profecia.
CANTO DELICADO
Penso o teu nome e digo liberdade
que outra escolha te poderia definir
na acácia de uma sombra sem idade
rasgas em ansiedade o acto de existir
Quem ousar em ti cumprir definições
é trocar o sentido à própria vida
na asa assim mais grata às emoções
embalas o peito num bilhete de partida
Conhecer-te é convocar a incerteza
nem o tempo espera de ti outra vingança
que a dor que te traz a mágoa acesa
voltará contigo de novo a ser criança
PERSPECTIVA
É do tempo ávido de preconceitos
que achados nos perdemos também
e livres enfrentámos os despeitos
que nos elevaram a pouco e ninguém
O rebelde intruso que em nós mora
reencontra-se na voz da intuição
decifra audaz o ânimo de cada hora
e subverte impávido o acto da criação
É deste tempo que por nóa passa
que pela alma a hora nos anima
rasga-nos rivais rentes à desgraça
e constrói-nos felizes na má sina
Simula a instantes essa presença
do futuro que nos repete andarilhos
e elege-nos venturosos à sentença
de nascermos pais de nossos filhos
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