Nascido em Bragança embora se considere madeirense (reside no Funchal), Eduardo Quina é professor de Filosofia e poeta.
POEMA 6
um pequeno barulho quebra o silêncio. uma luz sobre o
corpo deitado na escuridão do quarto. dentro de ti fluem
vozes que dizem coisas: não têm rosto.
ouvias: não falavas. o insuficiente silêncio do silêncio.
os teus olhos a olhar os teus olhos: adormecias. sonhavas.
o sonho era um túmulo da lembrança antes de tudo: os
nossos corpos velhos.
eu estava ali, ao teu lado, e não sentia nada
dentro de ti.
POEMA 10
na tua condição de fêmea
só suportas a tua própria existência:
um monólogo.
e desenhas-te,
sem palavras,
em silêncio,
até ao desfalecimento da própria matéria.
e sofremos os dois, mãe,
para a dor ser mais suportável.
POEMA 21
a minha memória
são as cicatrizes de deus.
e vivemos em carne viva
para que não esqueçamos
o sofrimento de que somos feitos.
perdão:
fui eu que te abandonei.
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