De seu nome João Apolinário Teixeira Pinto, João Apolinário nasceu em Belas em 1924 e faleceu em Marvão em 1988. Jurista, jornalista e poeta, foi correspondente de guerra em França durante a II Guerra Mundial, facto que o firmou como opositor ao fascismo e motivou à prisão e tortura pela PIDE, aos cárceres de Peniche e ao exílio no Brasil, onde se tornou uma referência da crítica literária. Lidara em Paris com os intelectuais do Café de Flore e foi cofundador do Teatro Experimental do Porto. Em 1975 regressou definitivamente a Portugal.
PRIMAVERA NOS DENTES
Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste
Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera
É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
É preciso avisar toda a gente
dar notícia informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha
É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores
É preciso imperioso e urgente
mais flores, mais flores, mais flores
MATURIDADE
Quis tanta coisa
não quero nada
O que é que muda
para ser assim
Quis e não quis
tornei a querer
e sem saber
porque é que quis
o que não quis
Só quis fazer
o que não fiz
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