Nos intervalos dos afazeres para o seu sustento, Nuno Rebocho poetava quando não pintava, por desfastio. Eram sucedâneos à sua profissão de jornalista que, durante cinquenta anos, ocupou na Imprensa escrita e na rádio.
COGITAÇÕES DE SÓCRATES DIANTE DE CICUTA
As engenharias adormecem os homens construtores
de barcos e nada como antes se descobre: tudo
se resolve agora na solidão do insólito Não ter
companhia é a liberdade do ir ao não ir
da vida ou do suicídio ou do estar por aí Não ter
companhia é ter a companhia dos deuses
construídos & dos silêncios que se constroem
As engenharias adormecem os homens
construtores de silêncios
Bebo o líquido da ignorância sem a repugnância dos videntes
: sei que o sol é sempre um lugar e um lugar
um ponto de partida: o que assusta
é a memória e não o projeto: é a incógnita
ainda por consumir: por isso é que
os audazes arrepiam dos caminhos e os temerosos
avançam sem a repugnância dos videntes
Por isso é que hei
-de perguntar cada questão por sua vez A necessidade
é um ritmo A vida é um ritmo A dor é um ritmo E se
acaso descobrir o que há a descobrir não gritarei aleluias
porque sou um caminhante - só os olhos constroem
as palavras com a boca de cada qual
Por isso é que nos desentendemos e nos afrontamos
no momento de cada questão por sua vez
E como homero direi: ágil & robusto é o Desvario
que tudo ultrapassa no vale das sombras & da luz
mais rápido do que os homens e em seu prejuízo
As Preces só curam pelas traseiras e quem respeita as filhas
respeita as feridas mais do que a Zeus pois nada
cai no esquecimento nem o filho do Tempo Só o Tempo
se esquece de si mesmo onde o Desvario o persegue
Aproximam-se as filhas do esquecimento e os votos
caem por terra Assim seja
O veneno esgota-se na lei e não gritarei eureka
se a chave do impudor me cair nas mãos Não lhe
ditarei a regra nem o antídoto para que o veneno
se baste a si próprio como lhe compete e as mãos
estejam livres para o silêncio dos combates Sou
caminhante e os silêncios não guardo, não os reclamo
que me basta na companhia a liberdade de não dizer eureka
Sem comentários:
Enviar um comentário