terça-feira, 16 de outubro de 2018

[0291] Daniel Medina, uma poesia leve


Daniel do Rosário Medina é natural da ilha de Santo Antão (Cabo Verde). Professor, investigador, formador, jornalista, animador cultural e poeta. Membro da Associação Cabo-verdiana de Escritores e administrador da Associação Cabo-verdiana de Autores, foi director da Televisão de Cabo Verde.


COMO CANTATA AO SOL-PÔR

Escuta o silêncio da alma que grita
Abre as comportas do peito
e deixa o sol a entrar
por entre as cortina
dos olhos cerrados.
Rompe a névoa do cansaço,
rasga a bruma do ensamento
e pousa um sonho leve
na mão suave da brisa morna.
Um marulhar de emoções se escapa
como cantata ao sol-pôr na praia de Quebra Canela.
Ouve os desejos do areal sem fim
e traça nas ondas prenhes
longas vestes de prata
que o crepúsculo incendeia.
Levanta teu corpo
e toca os luzeiros do infinito.
Estende as asas da fantasia
deixa-te voar na imensidão!...
Tropeça na lua ensonada
e constrói nela um abrigo de luz.
Revolve anseios reprimidos,
acorda esperanças entorpecidas
que o mar embala devagar.
Lança teu veleiro à deriva.
Deixa que a maresia te beije a alma
e um manto sereno te envolva
na quieta mansidão do despertar.
Amanhã quererás de novo o meu ombro?


POEMA INACABADO

Ardem-me os lábios
do beijo que não dei
e grita-me no peito
o abraço que se foi.
Sinto na pele
as labaredas famintas
da noite que não veio.
Rasgam-me o espaço
centelhas preciosas
de um olhar de luz
e povoa meu sono
um sonhar inquieto
como mar de ondas prenhes
reprimindo desejos vivos.
Sufocam-me palavras mudas
que trago em mim
num poema inacabado.

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