A poeta santomense residente em Portugal, Olinda Beja, regressa a este portal, trazendo vozes que nos reportam à sua ilha. Sempre bem-vinda. Agradecidos ficamos.
POEMA
rente a cada hibisco rosa como tua língua tempestuosa e doce
a palavra viaja entre adágios de tempo carregada de frutos
sabor a izaquente, a fruta pão no fogo, a água de coco
teu querer indómito, desregrado, desmesurado
água doce em meu salgado mar cascateando a infância
do nosso entardecer
solstício de tempo no eco dolente das nossas marés cheias de doçura
na interdição da mestiça voz com que rejeitas a palavra
esqueces teu porto de águas fundas. Velho sonho de Fernão Dias
no fogo fátuo das nossas madrugadas em nosso intocado
paraíso
na bandeja onde presenteias as longínquas cinzas dos avós
perpassa o vento quente do Shara
útero remoto em nosso aquático chão
volvidos que são sóis e luas e auroras boreais
só tu és o dia e a noite
o tempo e o instante
o minuto e a hora
INTIMIDADES
desces a grota
levas a tua e a minha roupa no quali das lembranças
e és a gravana vestida de saia e quimono
em tuas mãos rodopia o sabão bola bola
com que hás de lavar as nossas fragilidades
dilui-se tua esfinge por entre sombras de solano
o milho cresce no quintal de Sam Lili
a boca devora espigas de ouro na madrugada fresca
konobia sempre te acompanha nas margens do alvorecer
tanges mussumbas, chocalhos, canzás
enquanto de tua voz se soltam árias de um socopé de antanho
e teu corpo se balouça como se menina fosses na floresta virgem
no regresso a casa trazes milho doce e a luz de uma kafuka
bruxuleia em tua mão fremente
nunca vislumbrei o rio onde cantavas
ao meu peito chegavam apenas resquícios de tua voz dorida
Salve, Olinda Beja! Salve minha amiga e grande poeta!
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