Ex-ourives, nascido na Chamusca em 1955, Joaquim António Emídio é um poeta singular. Com uma bibliografia extensa, diz-se “retirado da poesia”. O autor de “O Livro dos Ventos” enveredou por um erotismo, elevado a uma linguagem extrema e “provocatória”, ao encontro da mesma atitude desafiante que encontramos em Nicolau Saião ou A. Dasilva O. Jornalista, fundador e director do jornal “Mirante”.
AS MÃOS
Felizmente que deixei as mãos
a salvo
depois de tanto ter negociado
o meu ouro
sempre fui um homem
de poucas palavras
em criança era mais fácil
porque sabia rezar
já não tenho tanto tempo
para a poesia
agora compro e vendo
ouro pratas relógios, etc
o ouro sempre foi negócio para grandes
apuros
ao fim do dia
com a poesia
ainda hoje
faço o mesmo
apuro sempre.
SEM TÍTULO
Amo o teu rosto de lua azul
sonho com a tua saliva doce
de tentos beijos adiados
sou o confidente das ervas
que crescem à tua porta
o sol que entrou pela tua janela
sou eu a correr para ti de braços abertos
um dia vou amanhecer nos teus olhos
e florir nas tuas mãos
O AMOR DE AGORA
O amor já não é uma punheta como era dantes
nem uma foda na cama com doze minutos para cada lado;
a pedir muito mais cu que cona
o amor só quer lições de canto e piano;
barrigudo, papudo nos olhos e com varizes
nas pernas, o amor já não sobe pinheiros
e eucaliptos: entretém-se nos jardins regados de fresco
a colher flores com terra nos olhos;
que sacana de amor é este
que só quer ir a bailes de putas para mostrar
o troféu por dentro das calças?
o que é feito do amor que morria nos campos de batalha
e acabava no quarto do castelo a ouvir cantar
vitória entre muralhas?
o amor já não é uma foda em pé como era dantes
mas eu quero viver outra vez o meu grande amor
com as minhas doze mulheres.
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