Pseudónimo usado por Baltasar Lopes da Silva para muitos dos seus poemas. Nasceu em Caleijão, ilha de S. Nicolau, em 1907 e faleceu em Lisboa em 1989. Foi professor, linguista, escritor e poeta, escrevendo em português e crioulo. Um dos fundadores da revista “Claridade” (com Manuel Lopes, João Lopes, António Aurélio Gonçalves e outros), leccionou em Portugal depois de se formar, regressando mais tarde a Cabo Verde e exercendo a docência no Liceu Gil Eanes, no Mindelo. Quando a doença o fragilizou, veio para Portugal em busca de tratamento e aí se finou.
SAUDADE FINA DE PASÁRGADA
Em Pasárgada eu saberia
onde é que Deus tinha depositado
o meu destino…
e na altura em que tudo morre..
(Cavalinhos de Nosso Senhor correm no céu;
a vizinha acalenta o choro do filho rezingão;
Tói Mulato foge a bordo de um vapor;
O comerciante tirou a menina de casa;
Os mocinhos da minha rua cantam:
indo eu, indo eu, a caminho de Viseu…)
na hora em que tudo morre,
esta saudade fina de Pasárgada
é um veneno gostoso dentro do meu coração.
CAPITÃO DAS ILHAS
Morreu hoje o capitão de um navio das ilhas.
Não foi porque ele era bom
e puxava afectuosamente o fumo do seu cigarro
quando falava comigo
que fui ao seu enterro.
Nem tão pouco porque conheci
as tragédias náuticas
que serviram de alicerce ao único poema,
entre flores e caiado de branco,
que ele escreveu nesta vida.
Fui ao seu enterro porque sou caçador de heranças
e queria confessar a minha gratidão
pela riqueza que ele me deixou,
pela sua dimensão desmesurada do mundo
e pela incorporação no veleiro em que todos navegamos.
A SERENATA
Vestida de gemidos de bordão,
lancinâncias de violino,
na noite parada
vem descendo a seresta.
Sumiu-se a cidade barulhenta
inimiga das crianças e dos poetas.
Uma voz canta sentimentalmente um samba.
Aquele aperto de mão
não foi um adeus!
Os cavaquinhos desmaiam de puro sentimento,
a cidade morreu lá longe
e a lua vem surgindo cor de prata.
Nessa história de amor são iguais
até o rei volta sua palavra atrás…
O meio tom brasileiro deixa interrogativamente a sua nostalgia.
É a hora que os poetas escolheram
para a procura dos seus mundos perdidos…
Amanhã a cidade virá novamente
inimiga dos poetas.
Mas agora ela dorme,
ela não sabe que os poetas falam com Nossenhor,
com a lua e com as estrelas
nesta hora tão lírica…
Menina romântica, irmã
das crianças e dos poetas…
A tua janela, florida de esperanças,
é um mistério que a cidade não entende.
Passa a serenata.
Mas no coração dos que temem a primeira luz do dia que vai chegar,
ficam os gemidos do violão e do cavaquinho,
vozes crioulas neste nocturno brasileiro
de Cabo Verde.
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