Nome literário de António da Silva Oliveira que, a si mesmo, se define como um “agitador urbano”.
Poeta e editor de Edições Mortas (responsável também pelas revistas “Piolho”, nome por que é conhecido um café do Porto, e “Estúpida”), nascido no Porto em 1958, foi livreiro de “Pulga” e um dos promotores da rádio “Caos”.
Faz da poesia uma trincheira para “honrar o passado combativo, refractário e de conspiração".
Desafiador de convenções, na esteira de Luís Pacheco e da corrente abjeccionista, é uma voz insubmissa e resistente.
A POÉTICA DE ARISTÓTELES
Está nua sentada de pernas cruzadas
Está naquele dia sorri um sorry
À tua frente de joelhos
Abro-te as pernas e deliciado
Observo pensativamente o bolçar
Do meu coração
SOU UM OCEANO DENTRO DE UM GRÃO DE AREIA
As palavras abrem-se
Todas ao mesmo tempo
Os lobos vomitam insónias
Debaixo dos malhos
O lambedor de caralhos
Lambe a sua perna de pau
Um sorriso sem lábios
Morrer na praia
Saudades do campo
Do chilrear das bocas de incêndio
Das manif estações a imitar o inferno
Do dia-a-dia a partir montras
A respirar gás lacrimogéneo
E as bastonadas da lágrima do menino
A recuperação do sudário kitsch
Selfies selfies e mais selfies
me mordam como varejas
À volta do objecto artístico
E todo o seu processar no segredo dos deuses
Que ditam os horários do serviço
Público do acordo ou não acordo
Hortográfico
A noite branca não tem páginas
Nem língua que chegue para um linguado
Pontapés na gramática os assaltos dos bancos
O rosto coberto pelo arrefecimento nocturno
O sexo pode esperar que o seu fruto
apodreça no seu ventre
A AVE DO ENTARDECER DIZ O POEMA
O campo como arena de carros de choque
Vazios a voltearem-se no poço da morte
A rapariga ergue o top para mostrar que é real
Um choque em cadeia
É quem mais adquire bilhete
Para o último dia da sua vida
Engolira um pano de vela
Era um veleiro amador
Na sua banheira voadora
À luz da vela
Quem te dirá
Que feia és
Quando desertificas
O meu interior
Tenho a minha alma ao lume
Sem papas o línguado.
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