José Manuel Krusse Fanha Vicente
revisita este portal. Nascido em Lisboa em 1951. Arquitecto e professor,
orientador pedagógico, formador de formadores, divulgador de poesia e poeta,
guionista e dramaturgo, José Fanha é uma das referências da poesia portuguesa
actual.
OS RESISTENTES
Ao Xico Fanhais, ao Manuel Freire e também ao Nuno
Rebocho
Acumulam derrotas e naufrágios.
Perderam amigos e haveres.
Mas sonham.
Caíram dez vezes
e onze se levantaram.
Porque sonham.
Nos seus olhos há
torrões de terra
cordões umbilicais
e a vermelha espuma
dos cavalos verdes.
Eles sonham.
Em cada gesto trazem a pairar
um aroma essencial de couro curtido
ou alfazema.
Eles insistem em sonhar
e renascem dia-a-dia
agarrados à palavra mais fraterna
de todos os alfabetos.
São meninos transparentes
no imenso carrossel da luz.
Entram
pela casa do padeiro como fosse a sua.
Entram
pelo mar do pescador e partilham
peixe
e as vozes corroídas pelo sal
das antigas
cicatrizes.
Atravessam oceanos para levar o lume
ao alto das montanhas.
Falam na língua do cristal e da prata.
Bebem vinho. Cantam.
Sonham.
Afagam a memória.
Passam devagar um dedo
pelas rugas
relembrando
as margens duras do fogo
tornando
mais amáveis
os descaminhos do mundo.
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