terça-feira, 29 de março de 2022

[0761] "A Marcha", de Luís Palma Gomes

A MARCHA


Ouviste tu, irmão, falar na longa marcha da derrota?

Talvez os meus passos lunares
não tenham deixado um rasto platinado
para que possas agora recordá-la.

Silenciei com um gesto toda a orquestra.
E deixei que as cinzas enchessem a sala do concerto,
enquanto escapei às arrecuas pela escada de incêndio.

Agora o dia reclama-me
mais por hábito que por convicção.
E vou de multidão em multidão 
numa estranha incompetência que me leva à solidão.

Quando puder, 
encostar-me-ei à margem do caminho.
E  sentado no lancil 
esperarei a vinda da próxima ilusão
até se esgotar a areia que rola indiferente 
no relógio de parede que arde à nossa frente.

(Desculpa-me a tristeza.)

1 comentário:

  1. A tristeza é e sempre foi berço de belos versos. Parabéns! MFernandaPinto

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