sábado, 12 de dezembro de 2020

[0720] Ricardo Jorge Claudino regressa ao nosso convívio com mais um belo poema, "saudosamente" rural

ALDEIA


Vinte e cinco casas

três ruas

duas travessas

o largo da igreja

o sino que toca, de hora em hora,

descansa na madrugada silenciosa.

Há sons que caminham

pelas estradas não alcatroadas,

de terra batida, de calçada.

O eco desafia a velocidade do som

e repete-se, repete-se, repete-se

até que as velhinhas entendam

à segunda ou à terceira vez

a vida citadina dos seus filhos

que o sonho desfez.

Aqui o céu está mais perto da terra — Tão perto, que a nossa voz se perde

por tão longe que quisemos ser.

1 comentário:

  1. O verso "céu está mais perto da terra" faz lembrar-me Carlos de Oliveira com aqueles versos: "Céu sem pingo de terra/ Terra sem pingo de céu"(cito de memória), ainda que aqui o sentido seja o oposto.

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