quarta-feira, 15 de abril de 2020

[0705] "Relíquia", de Nicolau Saião


RELÍQUIA

Onde está o silêncio onde jaz o silêncio?
Não neste braço   sujo   cortado
Não neste tapete espesso   neste bloco de apontamentos
onde se cruzam insultos   rimas
Não no pequeno perímetro das veias

- afinal tudo tudo entre nuvens de carbono
semelhantes a um bafo de camponês sobre a neve
onde se esmagavam insectos e excrementos de lobo
O primo velho outrora mo ensinara num mês adolescente.

Onde  em que ilha de desolação
sufocado  incerto  esse silêncio soberano
onde jaz    cerzido por traços de faca de pedra
Não   não o barulho de um passo que caminha para a beleza dum rosto
saindo de um vazadouro para a lama musgosa da margem
Brilhante como celofane

O silêncio que respira
Sim o silêncio morno de quem procura o vazio
ou de quem busca uma cor imersa na carne recordada
da mão faminta    de muitos negrumes alheios

O silêncio que se recolhe
que se desdobra
que nos relembra de momentos e perdas
O silêncio que permutamos
O silêncio para além da luz   entre os olhos de uma fera morta.

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