A ÚNICA PREOCUPAÇÃO
Joaquim Saial
Ele não questionava a existência de Deus
nem o perigo atómico.
Muito menos, a origem dos fogos florestais,
a pesca desenfreada das baleias,
as alterações climáticas,
os parcos aumentos dos funcionários públicos,
a gentrificação de Lisboa
ou a passagem da Rua Augusta a circo.
Nem sequer o vírus maldito das muitas mortes,
a grande praga do início do século XXI.
Ora, ora, queria lá ele saber disso tudo.
O que o preocupava,
o que o afligia mesmo,
o que não o deixava dormir,
sossegar sequer um minuto,
era que lhe riscassem o carro estacionado na rua,
aquele belo espadalhão azul mate,
comprado com tanto sacrifício.
Sem comentários:
Enviar um comentário