quarta-feira, 18 de março de 2020

[0701] Na reabertura do IM, um poema de Joaquim Saial


A ÚNICA PREOCUPAÇÃO
Joaquim Saial


Ele não questionava a existência de Deus
nem o perigo atómico.
Muito menos, a origem dos fogos florestais,
a pesca desenfreada das baleias,
as alterações climáticas,
os parcos aumentos dos funcionários públicos,
a gentrificação de Lisboa
ou a passagem da Rua Augusta a circo.
Nem sequer o vírus maldito das muitas mortes,
a grande praga do início do século XXI.

Ora, ora, queria lá ele saber disso tudo.

O que o preocupava,
o que o afligia mesmo,
o que não o deixava dormir,
sossegar sequer um minuto,
era que lhe riscassem o carro estacionado na rua,
aquele belo espadalhão azul mate,
comprado com tanto sacrifício.


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