segunda-feira, 22 de abril de 2019

[0631] Ana Rüsche, a poesia que nos chega de São Paulo, Brasil


Escritora e poeta brasileira nasceu em S. Paulo, em 1979. Foi Prémio ProAC, 2010. É apresentadora de poesia na Rádio Sens.


O CORPO É UM CORPO

o corpo é um campo
de batalha
se diz faca diz faça
se diz toque diz toca
esconde encolhe esconde

meu campo é um campo
de batalha
de apanhadores
e quando se dirá
amanhecer flauta
águas-vivas líquens
piratas areia quente
cavalos grávidos de mar?

: mais que nada se dirá
quando
um corpo for um corpo
um corpo for um corpo
um corpo é um corpo
um corpo é um corpo


AMA COMO A ESTRADA COMEÇA

bruxo,
me dê um arpão
e trague todo o mar, pois
hoje eu mudo de nome.
feiticeira,
me dá o que não se pode nomear,
pois hoje estou somente água descarnada de tinta e papel
e agora é a hora.
me dá tudo,
pois o destino está adentro
e a estrada não tarda.
a queimar, água-viva de caminhos, me inundo.


DEPOIS DA DOUTRINA DO CHOQUE

agora que os céus caem
agora que os demônios são meus olhos
agora que 16h20 é alta madrugada
agora que 666 é um número de crianças
agora que o céu cai
e que nada pode ficar
e que nada pode ficar
e que nada pode ficar


talvez você tenha que começar a correr

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