sexta-feira, 12 de abril de 2019

[0625] Gabriel Rosa, a jovem poesia angolana

Gabriel Jaime Neto Rosa nasceu em 1994 em Kilamba-Kiaxi, Luanda. Iniciou-se no mundo artístico ao mesmo tempo que exibia a veia de bailarino. Em 2010 ingressou ao movimento literário LEV'ARTE, Em Maio de 2012 conhece o Movimento Literário Vianense (actual LITERAGRIS).


COMBOIO DE INFÂNCIAS

Tosse o comboio da minha infância
Na passarela da memória
Vai desfilando sobre a cidade em convulsão
A esfaqueada infância
Na inocente culpabilidade da vida o ciclo
Comboiandando vai...
A alma zungando em colunas de nuvens
Deusificando mistérios
Entre a poesia das aves e o reumatismo
Da antiguidade
Tosse, tosse oh comboio da infância
Eis que faleceu o xarope da curadivindade
Sob o enterro do amor o cristal
E tu, oh comboio da infância
Vais tosserolando mortalidade
Na visão esfumada da memória


SUICÍDIO

É o lírio da voz
Na traseira da canoa
Do sonho
Que com a alma saboreio
Quando o céu risca
Das estrelas a fumaça
E sobre pés de pedra
Um frágil deus
Ante o poderio da forca


GRÁVIDO DE MIRAR

No golpe do inimigo
Cujo Marte cumpliciou
oiço...
Engaioladas canções
De liberdade
Num choro de cinzas
Mortas pelo vento
na mão do ouvido
Firo-me mar
Como a bala inútil
Que morre no poente
Ante a vergonha de ferir
A bexiga de deus
Eis-me tombado
No ventre d'uma terra
Anémica
Vêm transfusões
Internacionais
Para me erguer
Num Madagáscar
Cujas sombras
O sol engole
Grávido d'um quadro
Verde oceano
Eis-me cidadão do universo
Contra os abutres dos países
Que veneram os olhos
Do sol

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