Aires de Almeida Santos nasceu no Chinguar em 1922 e faleceu em Luanda em 1992. Em Luanda foi preso em 1941, voltando a ser preso anos mais tarde fazendo parte do “Processo dos 50”. Recebeu o Prémio Nacional da Cultura em 1989. Integrou a chamada “geração de 50” da cultura angolana.
SEM TÍTULO
Estórias que o vento trouxe
ouves?
não ouves
o que o vento, lá fora,
está a contar
às buganvílias?
há mais de uma hora
que o estou a escutar
ouviste
o que disse agora?
e que triste
que ele está…
diz ele
que o manuel
há quase dois dias
que anda no mar
e a ximinha,
coitada,
desolada,
sentada
na praia
a chorar
e a rezar
e a esperar
quando ele largou
no “bom dia”
o mar era um lago
e parecia de aceite…
mas, depois
cresceu,
enraiveceu
numa calema tremenda
e toda a praia de tenda
tremeu
partiram-se as armações.
viraram-se as embarcações
e toda a gente se escondeu,
assustada
só a ximinha,
coitada,
ficou sentada
na praia
a chorar
e a rezar
e a esperar
hoje de manhã
já a calema amainara
e não se vira ainda
o “bom dia”
a entrar
pra fundear
na baís
POEMA PARA MINHA FILHA
Para ti, querida,
Rosas e mel
E estrelas rutilantes.
Muita ternura e carinho.
E o Sol
Brilhando muito
Em frente ao teu caminho
Deixa comigo o fel,
A dor, o desespero.
Deixa que eu fira a pele
Nos ásperos abrolhos
Da vida.
Deixa chorar meus olhos,
Deixa comigo
O peso do sonho tão antigo.
Para ti, querida,
Paz, amor, ternura,
Estrelas rutilantes.
Rosas e mel...
Sem comentários:
Enviar um comentário