quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

[0595] Manuel C. Amor, dos Açores para Angola



José Manuel Couto Amor, poeta luso-angolano nascido em 1946.


SEM TÍTULO

Pela encosta descendente regresso ao quotidiano granítico das paixões e traições.
Trago uma nitidez matinal e directa,
para, finalmente, construir a festa reinventada.
e não há jardim que me prenda
nem destino que me seja breve.
Até a minha própria face me é estranha e longínqua!
Sob o silente olhar das buganvílias e das brisas vagabundas, vindas do outro lado da /montanha
onde um mar desgarrado se perde no fim dos longínquos horizontes da noite...
a tua imagem, a tua presença, a tua voz
são pesadelo
ou coisas inventadas?


A MINHA PÁTRIA É LÁ
Onde se cruzam todos os ciclos
A morte precede a vida
O amor está sempre disponível


Onde batucam tambores
Os altos fogos
Lambem as leitosas noites de cacimbo

E as mulheres
sempre grávidas

compartilham a mesma dor colectiva
e
numa permanente dissaquela de kazola
invocam espíritos no vento dos cazumbis

A minha pátria é lá

Onde a chuva cai no serpentear dos rios antigos.

MULHER COR DE MAR
Avelulada
Mulher azul
Prenha de luar

Nuvem inconsistente
Fugidia miragem

Insónia
Mágica
Ritual

Verão
Ilusão de amor

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