quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

[0559] João Rasteiro, a ternura das palavras

De seu nome João Manuel Vilela Rasteiro, nasceu em Ameal (Coimbra) em 1965. Funcionário da administração local, escritor e poeta, obteve vários prémios, nomeadamente o Prémio Literário Manuel António Pina (2010). Membro da Accademia Internazionale Il Convivio (Itália), do Conselho de Redacção da revista “Ofício de Poesia”. Em 2003 recebeu a “Segnalazione di Merito” no Concurso Internacionale de Poesia “Publio Virgilio Marone”(Castiglione di Sicilia-Itália), em 2004 obteve o 1º prémio no Concurso de Poesia e Conto “Cinco Povos Cinco Nações” promovido pelo Congresso Internacional de Literaturas Africanas e o 1º prémio do "II Concurso de Poesia NEFLUC-Faculdade de Letras". Obteve ainda o 1º prémio absoluto, na categoria de Poesia para autores estrangeiros, no Concurso Internacional “Premio Poesia, Prosa e Arti Figurative-Il Convivio “2004 (Verzella-Itália).


O CANTO DA MELANCOLIA

                              A Pablo Neruda

Um chão corpo carne indecisa.a memória
natureza de mãos que se fundem.a pele sexo
amor físico da terra.há um dilúvio verbal
que goteja o assombro.sob a corola o sulco
melancolia dos frutos.as sílabas mais tristes
línguas faiscantes.a carícia do caos raízes
palavras reverberas infinitas.na boca golfos
menstruados de silêncio.confusas unidades
feixes na respiração do mel.a distância feérica
na indolência redimida.o amor prefigurado
fístula sílica do canto geral.subversivo.
Acendo no odre das águas a morte.a seiva
cicatriz varada redentora.a palavra.o eco.


AS CÓRNEAS

Toda a beleza da morte a carne
no dorso onde as palavras acariciam a mão
aspergindo sexos o amor inclinado
na casa das mulheres o malogro
dos códigos nos gânglios as pálpebras
sinalizando as águas o rosto
entre os seixos e os búzios a ameaça
na carícia dos corpos outra luz
no aço escrito o fruto despido
nas veias dos arrumadores de palavras.


CORPO DE CAÇA

Num corpo de caça sagrado
onde as palavras se devoram entre si
o silêncio surge sob uma mancha de iodo
vestindo a terra com as asas dos mortos
o poema debate-se com a sua própria volúpia
envenenando os sexos e as bocas brancas
com o sangue virgem das suas vitimas.

As palavras embebidas em golfos
despem-se de suas longas vestes de água
nesse sangue e amam-no eternamente.

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