segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

[0542] F. Tchikondo





Poeta e cantor integrou em 2016 o colectivo do Ministério da Cultura da República Popular de Angola



PASSARINHO NO ASFALTO DA CIDADE

Nosso amor partiu puro e lindo
Em alegres asas das lavras de café.
Poisou sonhos de esperança sorrindo
Em nossos sonos tristes e vazios de fé

Ai nosso passarinho puro e lindo,
Jikulomessu kiosso wala okwenda!

Para as ruas e noites da cidade voou
Pesadelos e angústias na família despertou
Duros golpes arrancados da esperança
Corações feridos, mas o sonho avança
Ai nosso passarinho puro e lindo,
Jikulomessu, kiosso wala okwenda!

Ainda com tão pouca idade
Nas festas e raves se entregou
Nas avenidas e noites da cidade,
Em objecto fácil se transformou

Magoada, desencantada e viciada,
No frio asfalto a inocência foi violada.
Com tantas luzes, a mente se apagou
E rua escura e triste a alma lhe levou.

Ai nosso passarinho puro e lindo,
Na aldeia, tua morte é um mujimbo
Frio e duro como água do cacimbo,
Aiwé, mona muhatu wafu mu nzila.

Ngana Zambi, n´gonló o dila.
Aiwé, mamãwéééé
N´gui bâné mona muhatu wamiéééé!


EU QUERO UM RUMO

Eu quero um rumo
Na minha vida
Pessoal
Mas não pretendo
Uma via
Radical
Nos meus direitos
E liberdades
Fundamentais
Quero respeito.
Essas verdades
São herdades
De meus pais.
Eles lutaram
E conquistaram
Paz p’ra as famílias.
Nos libertaram
Sem haver Líbias,
Nem primaveras
Tão severas.
Essa canção
De que o dinheiro
Assim Global
E mãos com sangue
Tão mundial
Humanos são
Muita atenção
Isso é ganância
Imperial.
Mau companheiro
Na distância
Se sente o cheiro.
Eu quero um rumo
Na minha vida
Pessoal
Mas não pretendo
Uma via
Radical.


LÚCIO LARA NÃO MORRE

Mãos armadas braços d’Angola
Vivas vitórias sim, parto “menor”
Ideologias, ruelas passeios sem rumo
Rostos serenos olhos nos olhos
Lúcio Lara está vivo!
Juntos caindo cidade baixa
Prédios, becos, cárceres privados
Cães de raça dentes ferozes
Encruzilhada vida e morte
Lúcio Lara morreu?
Nervos cruzados esperançosos
Física presença se impondo
Espírito alto sem asas falando
Sim, sou eu!
Dúvida certeza, lágrima rolando
Furiosos caminhos trilhados
Factos na história revelados
(Onde tínhamos o microfone?’
De tão verdade não foi gravado)
Mães cruzadas de fome
Dentes rangendo de ternura
Sangue vivo nas veias corre
Sim, este parto é “maior”
Lúcio Lara não morre!

Sem comentários:

Enviar um comentário