sábado, 29 de dezembro de 2018

[0525] Ainda dentro da época natalícia, mais um poema de José do Carmo Francisco


A condizer com a quadra, os leitores de “Ibn Mucana” recebem uma prenda de José do Carmo Francisco.


O CRISTO DE MADEIRA DA RUA ANCHIETA

Uma coroa mas de espinhos
Faz sangue no incauto rosto
Passam os homens sozinhos
Do sobressalto ao desgosto.

No Natal que se aproxima
Tão veloz como uma luz
Entre a lágrima e a rima
Surge o busto de Jesus.

Num bocado de madeira
Trabalho de artesanato
Uma peça de oliveira
Que ultrapassa o retrato.

Porque extensão e volume
Dum rosto hoje distante
Lembram traição e ciúme
Do suposto bem-pensante.

Sacerdote incontestado
Entre Herodes e Pilatos
O povo tinha gritado
Por Barrabás e seus actos.

Na varanda e na bacia
Quem lava as mãos a chorar
Sabe que no fim do dia
A água não chega ao mar.

Travada pela secura
Do deserto da indiferença
Escondeu-se numa escritura
Sem sequer pedir licença.

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