sábado, 22 de dezembro de 2018

[0513] Francisco José Craveiro de Carvalho, a poesia matemática


Nasceu em Alvaiázere em 1950. Matemático doutorado no Reino Unido e professor catedrático, poeta e tradutor. 


TERCEIRAS IDADES

Alguma pena tenho
das pessoas que entardecem
como eu aqui penduradas.

Que se esforçam em sudokus
prevenidas
com poucas palavras.

Que  se deixam arrastar
pela cozinha básica
do Henrique Sá Pessoa

mas que  o preço
das tralhas mínimas
dissuade.

Em casa nas mesas
em vez de jarras
contemplam dicionários.


TRÊS HAIKU

Duas rectas paralelas
nunca se encontram
para falarem um bocadinho
*
Cabeça no ar
a circunferência perdeu o centro
e ficou uma curva uniforme
*
O interrogatório foi tão violento
que o cilindro saiu de lá
um cone.


CARRINHO DE SUPERMERCADO

Nada tingiria o seu corpo

ao sentar-se todas as manhãs
para tomar café

se não fosse o adereço
invulgar mas singelo

do carrinho do supermercado
ali mesmo ao lado.

Despovoado sempre.

Sem comentários:

Enviar um comentário