sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

[0511] Jorge Castro, uma voz livre


Nascido no Porto em 1952, poeta e animador cultural, organizou as Noites com Poesia, em S. Domingos de Rana e administra o blogue “Sete Mares”.


A PROPÓSITO DE UM DESENHO DE RAIM 

ele há paços de concelhos
ele há paços de outra vida
ele há passos de coelhos
ele há passos de corrida
ele há viver de joelhos
ele há viver outra vida

e se eu me passo p'los paços
por onde passos não dou
sejam eles do paço ou Passos
por aí é que eu não vou!


AS CANÇÕES DA NOSSA LIBERDADE

- um outro poema de referências, como agradecimento a João Balula Cid e aos seus (nossos) amigos em sessão memorável das Noites com Poemas

as canções da nossa liberdade
são da cor das madrugadas da vida
no acaso tanta vez
feito vontade
por valer uma esperança enfim cumprida

são da cor de um olhar ao mar aceso
são o brilho desse olhar na noite escura
são raiz do pensamento enfim coeso
são as mãos da paz
da guerra
e da aventura

as canções da nossa liberdade
são aquelas soltas no vento que passa
alvoroço contra o medo e sem idade
de haver sempre uma candeia na desgraça
uma luz
algum farol
o olhar ardente
essa bola entre as mãos de uma criança
que saltita alegre e viva à nossa frente
e por saber ser assim livre
é cor da esperança

hão-de ser para alguns um leme inteiro
o velame que impele a nau premente
esse grito que nos rasga o nevoeiro
quando o tempo de mudança
é mais urgente

as canções da nossa liberdade
são a carne viva feita de emoções
cada nota
cada estrofe que em nós arde
incendeia aqui e agora os corações
a crescer entre o peito e a garganta
a valer de pena e espada que acontece
quando a noite se finou e amanhece
nesse querer voar que sempre se agiganta
na invenção do amor que nunca é tarde
inteiro e limpo
o dia que enfim canta
as canções da nossa liberdade


A ESPIRAL DEPRESSIVA

um BPN
um BANIF
a PPP
ah, patife!
a trapalhada
a chulice
o poleiro
a aldrabice
o lugar fixe
e o povo…
nada é novo:
- que se lixe!

um presidente
um governo
um acidente
um inferno
coligação
rés do chão
maioria em demasia
e que a tudo valha o demo!
cá nos sobra o despautério
e mais a desilusão
dos mares da corrupção
que já ninguém
leva a sério

uma troika
gasparova
sempre urgente
e homicida
a fazer de seminova
em governo
de saída
de pés p’rà cova
impotente
mas cautela, ó clientela!
também vem aí
a Europa
o FMI
o Obama
a China nova a oriente
essa tropa e essa gente
tão ingente tão ufana

que eu bem nos vi
de repente
limpando o fundo
à gamela
e de bandeira
à lapela
num venha a nós
vosso reino
mas primeiro
que em toda a cidade e vila
mesmo à má-fila
e sem treino
matemos nossos avós
que aquilo são empecilhos
e rendem bem mais
os filhos
do que os egrégios avós

assim nos vai o país
dos heróis
dos marinheiros
dos caracóis
dos dinheiros
sem apelo e sem agravo
de fados sem marceneiros
mas de grunhos
estremenhos
a não valerem um chavo
sem terem terra
também
nem pai
nem mãe
nem ninguém
que lhes prove
sem rebuço
e comprove
sem senão
qual a dimensão
de um chuço
e correr com eles a nove!

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