Reincide em “Ibn Mucana”, a poesia do poeta brasileiro Edu Mulato. Traz o cheiro do samba e do brinca-na-areia. E agradecemos.
O LUTO E A LUTA
Luto contra a luta
de fazer, do luto, luta
todo dia, todo dia...
Luto contra o cheiro de carniça
que invade, inteiro, a missa,
mesmo estando o corpo ausente
Este cheiro, a gente sente...
... completamente...
Todo dia a gente morre;
todo dia se revive;
todo dia o sangue escorre...
todo dia...
todo dia...
to do dia...
Um tiro, um grito
Lá no chão, um corpo quente...
... e povo passa, indiferente...
perversa
mente
... essa a desgraça,
que a gente sempre sente
Profuun damente...
Todo dia a mesma luta.
Como é dura essa labuta!
Que é bruta,
e é diária,
é incerta,
inserta e vária,
deserta, pária,
porque perdida de saída:
é o fim da vida ainda em vida
Que culpa tenho de meu gene diferente?
Que culpa tenho se, também, me sinto gente?
Meu sangue corre, mas, também, é o mesmo, e quente...
Meu Deus, cadê a sua paz?
Onde estão meus orixás?
Será meu corpo entregue à terra?
Será incerta e infinda a mesma guerra?
Nem assim meu grito cala.
Minha voz, se muda, fala:
alguém irá levar meu luto à frente;
minha luta estará sempre presente
Eternamente...
A minh’alma assim o sente.
Minha luta? É ir em frente....
Com-pul-so-ria-mente...
... a paz ausente...
perenemente...
Este é o luto
que a gente sempre sente...
É sempre assim:
é quase o fim...
Tão simplesmente.
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