quarta-feira, 14 de novembro de 2018

[0409] David Mestre, a opção angolana


De seu verdadeiro nome Luís Filipe Guimarães da Mota Veiga, era cidadão angolano embora nascido em Portugal, em Loures, em 1948. Faleceu em 1997. Foi para Angola muito novo. Jornalista, escritor, crítico literário e poeta, director do “Jornal de Angola”, integrou o Grupo “Poesias-Hoje” (em 1971). Com a independência de Angola tomou partido pelo MPLA. Membro da Associação Literária de Críticos Literários


BLUES

Tua voz desliza como um pássaro aberto na lâmina do dia
ilha que se levanta e voa a partir do Sol
lamento gritado da floresta por sua gazela perdida
choro grande do vento nas montanhas
ao nascimento de um escravo mais na história do vale

Tua voz vem de dentro da cidade
de todas as ruas bairros e leitos da cidade onde houver um calor de pernas
contar o silêncio das horas guardadas a soco no sarilho dos ventres
com um jazzman a assobiar na escuridão dos pares
a memória ácida do chicote
nos porões do Mundo


PARA ELISA

Embora
os passos partidos
no fundo
acaricio-te ainda
como se

inchados de beijar
o teu nome
os lábios em verso
pudessem
ainda acariciar-te


QUE OUTRO NOME

Que rio se pode
abrir na língua acesa
para o capim crepitando
baixo. Que palanra
por ele nasce

e corre corre a lua
e outra lua sem que regresse
ao corpo. Que outro nome
te demos
vestida e no corpo desposada.

Liberdade

Que tempo de
ocultar o nome sabíamos
perder e nem
de moscardo zumbias: Ngola

nosso pouco maruvo eras
no terreiro anunciada.

Liberdade.

Quem das copas pronuncia
os teus lábios na terra? Nzambi
neles tivesse
mordiscado leve.

Liberdade.

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