
Regente agrícola, jornalista e poeta, deambulou por vários países da Europa, viveu durante muito tempo em Moçambique, fixando-se em Luanda após o seu regresso a Angola. Foi reso pela PIDE, por se identificar com as ideias independentistas. Integrou a chamada “Geração da Cultura” (nome de uma revista, década de 50), dirigindo a Colecção Bailundo. Cofundador da União dos Escritores Angolanos, destacando-se pelo seu inconformismo e vida boémia era conhecido como um “escritor maldito”.
O CANTO DE MARTRINDINDE
O canto do Martrindinde
é um canto da cidade
vem pela noite dentro
cheio de ambiguidade
O canto do Martrindinde
é um canto da cidade
vem pela noite dentro
cheio de ambiguidade
O canto do Matrindinde
é um cantar nacional
veio do mato à cidade
e tornou-se universal.
NA NOITE DOS CAZUMBIS
As cubatas de Himane arderam ontem
foi a grande queimada que Calupéte atiçou
no capim velho
amanhã nascerá das cinzas o capim novo
com que apascentaremos o gado
Himane reconstrruirá o seu quimbo
ne encosta da montanha d Sámuei
bem longe da estrada
perto das sombras grandes da floresta
lá onde passam regatos tranquilos
os passarinhos cantam
e a madeira e os frutos silvestres abundam.
N´Dove canta debruçada sobre a lavra
os seios pendem-lhe flácidos sobre a terra estrumada
pelo seu amos
o filho chora junto da cabeça de milho
a terra está molhada das primeiras chuvas
o milho está pronto para cair nas lavras
que N´Dove preparou
Este ano vai ser ano grande para o povo de N’Dumbe.
Na vila
o senhor Administrador já está a cobrar os impostos
já mandou o cipaio Tembo avisar os sobas
Gunga foi no contrato
foi para as fazendas de sisal da Ganda
os filhos ficaram com a irmã mais velha
os bois foram vendidos e a lavra abandonada
Amanhã
Himane recomeçará a reconstruir as cubatas incendiadas
isto se não para a cidade
ser servente de pedreiro
lá nessa cidade onde se constroem as casas de cimento armado
a tocar as nuvens do céu
lá nessa cidade de que falou o primo N´Zimbi
lá onde as luzes apagam escuridões
povoadas de cazumbis
lá onde as queimadas não aparecem
alterando os ciclos e as estações
PICADA DE MARIMBONDO
para o Pila, companheiro de infância
Junto da mandioqueira
perto do muro de adobe
vai surgir um marimbomdo
Vinha zunindo
cazuza!
Vinha zunindo
cazuza!
Era uma tarde em Janeiro
tinha flores nas acácias
tinha abelhas nos jardins
e vento nas casuarinas,
quando vi o marimbomdo
vinha voando e zunindo
vinha zunindo e voando!
Cazuza!
Marimbondo
mordeu tua filha no olho!
Cazuza!
Marimbondo
foi branco que inventou…
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