sexta-feira, 12 de outubro de 2018

[0273] Domingos Barros Neto, as novas expressões angolanas


Domingos Fernandes de Barros Neto nasceu no Cazengo, Kwanza-Norte (Angola) em 1945. Viveu a sua infância no Dondo e em Luanda onde concluiu o liceu. Formou-se em Itália e, em Angola após a independência, concluiu o curso de Direito na Universidade Agostinho Neto. Professor, advogado, tradutor, assistente comercial e adjunto da área da cooperação universitária italo-angolana. Foi director da SADIA, Sociedade Angolana dos Direitos do Autor. 


ULUNGU

a esta hora
água
lá no Kwanza
é sangue
que o sol
ao rio entornou

 aí
no murmúrio
das densas ondas vermelhas
só uma velha canoa
gemendo
nas águas crepusculares
do Kwanza

(aquela canoa
de mafumeira
ao rio assim lançada
é sublime invenção
de antepassados meus)

no rio
pela canoa raspado
só o borbulhar dos remos
lambendo
as águas chorosas
do Kwanza

«ximbica, ximbixamuzangala
prepara o lata Kazúa
zunir com o canoa
vibra a remo no água
dikumbiantão vai morer já!»

são três remadores
de regresso à Lola
lutando
 com as ondas vermelhas
do Kwanza

lá vai
lá vai a canoa
sobre as ondas do Kwanza
vibrando uma canção
na sinfonia dos remos
a gente em silêncio
na canoa assentada
parece dizer
 uma devota oração
ao Deus Criador
e à senhora da Muxima

ó bela Santa Conceição
tubingil´etu tu akuaituxi
kindalanimukumbi
dia kufuakuetu…

lá vai
lá vai a canoa
sobre as ondas do Kwanza
vibrando uma canção
na sinfonia dos remos!

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