Nascido em Lisboa em 1928, João Rui de Sousa é poeta, tradutor e ensaísta.
Trabalhou como investigador nos espólios literários da Biblioteca Nacional de Lisboa e, com António Ramos Rosa e outros, fundou a revista “Cassiopeia”, de que foi director.
Obteve o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários de 2002, o Prémio PEN Clube Português de Poesia de 2003 e o Grande Prémio Vida Literária da APE/CGD de 2012.
CORPO DE AMBIGUIDADE
posso e não posso ir-me noite fora
nestes pilares do medo desta dor
- é quando os dedos ferem (não se tocam)
é quando hesito e coro
é quando vou não vou neste mergulho
em seco a imergir em pobre chão
de caos e flor e vinho e confusão
é quando sem chorar me escondo e choro
DEPOIS DE AMANHÃ A PRIMAVERA
A dadivosa mãe que em tudo existe
para além do só remédio só palavra
um cobertor de esperanças para o medo
três girassóis lindíssimos desdobráveis
A boca na boca e as lágrimas
mais azuis de brinquedos e de imensos
lençóis de inventar os dias límpidos
A dadivosa mãe as tardes quentes
Florescer a noite de agasalhos
de corações em pé no destemor
alimentar as órbitas fraternas
de iluminar raízes dança pura
Ó música sem tédio dos cabelos
do teu olhar do cheiro dos reflexos
desta razão solar! Em caule e rama
- ó dadivosa mãe – tudo desperta!
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