terça-feira, 25 de setembro de 2018

[0192] João Rui de Sousa

Nascido em Lisboa em 1928, João Rui de Sousa é poeta, tradutor e ensaísta. 

Trabalhou como investigador nos espólios literários da Biblioteca Nacional de Lisboa e, com António Ramos Rosa e outros, fundou a revista “Cassiopeia”, de que foi director. 

Obteve o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários de 2002, o Prémio PEN Clube Português de Poesia de 2003 e o Grande Prémio Vida Literária da APE/CGD de 2012.


CORPO DE AMBIGUIDADE

posso e não posso ir-me noite fora
nestes pilares do medo desta dor
- é quando os dedos ferem (não se tocam)
é quando hesito e coro

é quando vou não vou neste mergulho
em seco a imergir em pobre chão
de caos e flor e vinho e confusão

é quando sem chorar me escondo e choro


DEPOIS DE AMANHÃ A PRIMAVERA

A dadivosa mãe que em tudo existe
para além do só remédio só palavra
um cobertor de esperanças para o medo
três girassóis lindíssimos desdobráveis
A boca na boca e as lágrimas
mais azuis de brinquedos e de imensos
lençóis de inventar os dias límpidos
A dadivosa mãe as tardes quentes
Florescer a noite de agasalhos
de corações em pé no destemor
alimentar as órbitas fraternas
de iluminar raízes dança pura
Ó música sem tédio dos cabelos
do teu olhar do cheiro dos reflexos
desta razão solar! Em caule e rama
- ó dadivosa mãe – tudo desperta!

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