Luís Filipe Sarmento faz o favor de revisitar este portal. Como sempre,
“Ibn Mucana” tem a honra de o acolher: a sua poesia é sempre bem-vinda. Seguem
mais quatro poemas do seu livro (em preparação) “KNK”
8.
Se inventou sinais,
criou-lhe uma teoria
para que o conhecimento
fosse completando com razão
o que autentifica o ser
e a sede de sair de si.
Entre as árvores o seu
aposento,
talvez a explicação das
folhas, das veias, da resina,
a incógnita dos céus,
sendo seu habitante.
A priori o tempo e nele
a casa habitada de interrogações,
da seara ao pão, da
paisagem ao destino da fome,
o fogo da besta, a
perversão da propriedade do espaço
e da fronteira.
Instrumentos de matar
solidificam a aridez
das memórias, o deserto da ignorância.
Exposição ao perigo, a
experiência do aventureiro
que, em território
desconhecido, se entrega
ao mistério e
imediatamente não diz
o que a reflexão
aconselha como prova de existência
na descoberta do que
entende de si.
9.
À noite, fugido ao
pássaro inquietante, o homem
atormentado esconde-se
do destino para superar
a sua condição de
existência. Amplia-se ao pensamento
e abisma-se na
perplexidade de se elevar
às questões que não
esgotam a sua curiosidade.
Caminhos obscuros, cruzamentos
de contradições
e o desejo
incomensurável de experimentar
o que a pele desconhece
condu-lo
num eterno nomadismo de
si ao ritual dos pássaros
tão perturbantes que
esperam a podridão da sua carne
para que o anonimato o
converta em desperdício.
E da metafísica passou
à televisão
como se o Olimpo se
renovasse a cores
durante um banquete de
tostas místicas.
10.
Na ordem do tempo, a
aventura de sair
para ser, do olho à
boca, a experiência do gesto,
o corpo como primeira
impressão.
Reconhece a mãe, a
madeira, o primeiro ecrã
de um mistério
incomensurável.
As estrelas ainda não
têm nome
e os mitos tardarão na
geografia dos sonhos
e dos desejos.
Expõe-se ao dilúvio de
interrogações
e sabe que os dias
terão obstáculos.
Não esquece onde está e
determina
os passos, eleva-se e
percebe o horizonte
de uma possibilidade a
haver.
Quando desperta, a
origem dá-lhe a dimensão
do caminho andado e em
si há algo que se expande
num crânio que se
adapta ao que desconhece.
A fêmea observa-o e ele
treme.
11.
Se não se vender ao
dogma
tudo o que
aparentemente conhece
foi experimentado a
partir de fontes
sem experiência.
Elabora ficções a
partir de ideias que interroga
e constata o que há
muito pressente:
o além é uma viagem sem
limites
e durante a sua jornada
a miragem do horizonte
é um estimulante de impulsos,
um voo no espaço
desconhecido do entendimento,
o vazio tão puro que o
liberta de toda a suspeita.
Expõe-se ao desejo e
ela aniquila-o com prazer.
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