Nome por que é conhecido Carlos Alberto Barbosa, natural da ilha de S. Vicente, Cabo Verde, em 1947.
Criado em Assomada, ilha de Santiago, reside actualmente na Praia.
Músico, contista e poeta bilingue (em crioulo e em português). Fundador do Movimento Pró-Cultura e da Associação dos Escritores Caboverdianos, integrou o importante Grupo Simentera.
Autodidacta, foi deputado cabo-verdiano durante dois mandatos e é fundador da Sociedade de Autores Cabo-Verdianos.
POEMA DESCONSAGRADO
Como seta a pedra na cama da funda
em curva percorreu tatuada de morte
o vão entre o alvo e a mão do atirador
Pé de cera desabou o pesado gigante
em sinal de inocência olhava
deus o atirador de mãos lavadas
Ante o baluarte que o tinha posto à prova
odiar e matar impios e malvados
era festa jubilosa dirigida ao senhor
No chão sombrio de lutas tribais
reis contra reis escribas narravam
as batalhas em nome do sagrado
Na festa de homenagem ao deus justiceiro
regia o temor de a Ele não se irritar
irado os desfaria como vaso de barro
No último recado falou ao atirador deus
eu te darei povos como herança
e governarás com ceptro de ferro
Felizes serão os que em ti confiam a vida
ficou assim escrito o desconsagrado
neste Salmos sem vates e sem deus
NO ADEUS A AGOSTO
Senti música
Em gotas de chuva
Múltiplos ritmos
Caindo dos beirais
Sonidos que dançam
Corações murchos
Minha rua
Ensopou-se de repente
De esférulas líquidas
Vindas do espaço
Do vidro baço
Olho o Pico d’António
Nuvens cinza planam
Olho o pátio
Páginas verdes das acácias
Decoram
Poemas da estiagem
Olho a Rua Poeta Mário Fonseca
Correm rios marrom
Cara-abaixo na corrente
No adeus a Agosto
Duma azágua funesta
É O HARMATÃO
Secura
Piso lento
Suplicio
Sacrifício
Tempo violento
Malevolência
Inclemência
Céu
Desarmado
Assombração
Secação
Estiagem
Fantasma
Fome
Olhos
Estáticos
Morte lenta
Campos
Moribundos
Espaços
Vagabundos
Lugares
Desolados
Olhares
Pensares
Enxadas
Dormentes
É o harmatão
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