Mário António Fernandes de Oliveira, nascido em Maquela do Zombo, Angola, em 1934 e falecido em Lisboa 1989, foi um poeta luso-angolano. Passou em Portugal grande parte da sua infância e juventude e esteve ligado à criação do Partido Comunista angolano e ao PLUAA (Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola), juntamente com Viriato da Cruz, António Jacinto e Ilídio Machado, mas devido à repressão colonial-fascista abandonou as actividades políticas. Professor e meteorologista, foi presidente da secção de Literatura da Sociedade de Geografia de Lisboa. Poeta, contista, ensaísta e historiador, pertenceu à geração da “Mensagem”. Em 1963 foi viver definitivamente para Portugal.
BEIJO-DE-MULATA
Pai:
Olho o teu rosto fechado
nas letras apagadas dessa campa
a tua
(no quadro dezasseis
do Cemitério Velho)
e não sei que mistério poderoso
me prende os olhos,
Pai!
A pedra não diz nada senão pedra.
Os beijos-de-mulata que plantaram
sobre o teu corpo
continuam florindo da tua substância.
Não surge sobre a campa
O sorriso de que dourei tua lembrança,
Pai!
Não fico mais aqui, porque estás longe.
Tudo quanto estou ouvindo e repetindo
vem de dentro de mim
de um já longínquo mundo.
Apenas levarei um beijo-de-mulata
eterna florescência do teu ser
lembrança imperecida da tristeza
que marcou o teu rosto sofredor.
NOITES DE LUAR NO MORRO DA MAIANGA
Noites de luar no Morro da Maianga
Anda no ar uma canção de roda:
"Banana podre não tem fortuna
Fru-tá-tá, fru-tá-tá…"
Moças namorando nos quintais de madeira
Velhas falando conversa antigas
Sentadas na esteira
Homens embebedando-se nas tabernas
E os emigrados das ilhas…
– Os emigrados das ilhas
Com o saldo mar nos cabelos
Os emigrados das ilhas
Que falam de bruxedos e sereias
E tocam violão
E puxam faca nas brigas…
Ó ingenuidade das canções infantis
Ó namoros de moças sem cuidado
Ó histórias de velhas
Ó mistérios dos homens
Vida!:
Proletários esquecendo-se nas tascas
Emigrantes que puxam faca nas brigas
E os sons do violão
E os cânticos da Missão
Os homens
Os homens
As tragédias dos homens!
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